CIENCIA
Pesquisa confirma que aumento de C02 inicia aquecimento
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Caiu um dos últimos bastiões dos que argumentam que a queima de combustíveis fósseis não aquece a Terra.
O problema, diziam os céticos, é que o CO2 liberado por essa queima não parecia ser o causador de mais calor no planeta em épocas geológicas anteriores. A ordem parecia ser inversa: primeiro a Terra esquentava e só depois a atmosfera recebia mais CO2.
"A aparente contradição tem a ver com a maneira como a neve se deposita", afirma o paleoclimatólogo Cristiano Chiessi, da USP.
Explica-se: os principais registros sobre o clima do passado vêm de cilindros de gelo obtidos na Antártida. Em lugares de neves eternas, essa "biblioteca" gelada alcança centenas de milênios.
A composição do gelo dá pistas sobre a temperatura na época em que a neve caiu, enquanto bolhas de ar presas na massa gelada indicam quanto CO2 havia no ar.
"O problema é que essas coisas acontecem em ritmo diferente. Quando a neve cai, ela fica muito tempo permeável ao ar acima dela. Demora para as bolhas se formarem", diz Chiessi.
Resultado: os modelos indicavam que o ar preso nas bolhas sempre é mais "novo" que o gelo ao lado. Assim, não dava para saber qual tinha sido a ordem dos acontecimentos, num verdadeiro problema de ovo e galinha.
Um artigo na revista "Nature" do mês passado, assinado por Jeremy Shakun, da Universidade Harvard, contornou isso unindo os dados da Antártida a outros registros pelo mundo. A pesquisa mostra que, no fim da última era glacial, a ordem foi mesmo mais CO2 primeiro e temperatura aumentada depois.
Detalhe importante: em cem anos, os níveis de CO2 atmosféricos aumentaram na mesma proporção que todo o incremento em 10 mil anos no fim da última fase glacial.
O que uma mudança dessas pode causar além de mais calor? Uma pista está num estudo coordenado por Maria Assunção da Silva Dias, também da USP, que viu um aumento de um terço na chuva da Grande São Paulo em menos de um século.
Boa parte disso tem a ver com fatores naturais e com o excesso de prédios da metrópole. "Mas a mudança lembra um ensaio do que se espera que venha no futuro, com mais eventos extremos", diz Silva Dias -como tempestades na estação seca, antes inexistentes, e mais temporais como um todo.
Apesar de incertezas, dados sobre aquecimento estão cada vez mais fortes
REINALDO JOSÉ LOPES
EDITOR DE "CIÊNCIA+SAÚDE"
Paulo Artaxo, físico da USP e membro do IPCC, o painel do clima da ONU, mostra o rascunho de um dos capítulos do próximo relatório do grupo, a ser lançado no ano que vem. O gráfico, uma estimativa da influência das nuvens e dos aerossóis (partículas em suspensão no ar) sobre o clima da Terra, pode parecer decepcionante para quem quer respostas prontas da ciência. Do último relatório do IPCC (de 2007) para cá, a incerteza sobre esse fator aumentou, em vez de cair.
Pesquisa confirma que aumento de CO2 inicia aquecimento
Cético fica sem "clima" para financiamento científico
Paradoxalmente, diz ele, isso se deu porque a ciência do clima melhorou, incorporando cada vez mais a complexidade da natureza em seus modelos computacionais, usados para prever como será a Terra do futuro.
O resultado desses avanços não deve fazer os céticos sobre o aquecimento global cantarem vitória. Incertezas à parte, é muito difícil abalar a alta probabilidade de que, ao longo deste século, o planeta vai esquentar mais alguns graus Celsius (algo entre 2º C e 5º C).
"Eu não acredito que isso seja um cenário de fim de mundo, mas as consequências sociais e econômicas vão ser sérias", sentencia Artaxo.
Ele e outros pesquisadores de destaque da área, ouvidos pela Folha, são unânimes em dar de ombros diante do recente mea culpa do britânico James Lovelock.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
GAIA E CIÊNCIA
Criador da célebre hipótese Gaia (que enxerga a Terra como um gigantesco ser vivo), ele causou barulho ao dizer, anos atrás, que o aquecimento global mataria bilhões de pessoas até 2100, confinando os poucos sobreviventes no Ártico.
No mês passado, ele se retratou, dizendo estranhar porque o planeta ainda não esquentou mais.
"Eu não sei se ele esperava um aquecimento maior, mas posso dizer que o aquecimento que de fato ocorreu [cerca de 1ºC] está perfeitamente de acordo com as previsões do IPCC", diz Artaxo.
"E note que em nenhum momento ele nega que o aquecimento esteja ocorrendo ou seja causado pela ação humana", completa Tercio Abrizzi, meteorologista do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP.
A temperatura global, neste começo de século 21, parece mais ou menos estacionada no nível mais quente alcançado no fim do século 20.
"É preciso lembrar, primeiro, que esses degraus são previstos nos modelos climáticos", diz Abrizzi. "E há excelentes trabalhos recentes mostrando que as camadas superficiais do oceano estão ficando mais quentes." É como se eles, temporariamente, funcionassem como um "amortecedor" do clima.
Outro possível amortecedor são os aerossóis, como as partículas de enxofre liberadas pela poluição industrial. Amargo paradoxo: tornar o ar das cidades mais respirável pode engatar a quinta marcha do aquecimento.
"Há inúmeros tipos de aerossóis e nuvens, que podem se comportar de um jeito no nível do mar, de outro a 1.000 m de altitude e de outro na estratosfera", diz Artaxo.
É por causa dessa complexidade que a incerteza dos modelos cresce. Mas, como a proverbial faca, ela corta dos dois lados: pode muito bem revelar um risco ainda maior da mudança climática.
Para entender os créditos de carbono, é preciso compreender primeiro o efeito estufa e o Protocolo de Kyoto. O efeito estufa faz parte da dinâmica do planeta e, graças a ele, a Terra é mais quente do que o espaço e tem a temperatura ideal para que os seres vivos sobrevivam. Funciona da seguinte forma: parte do calor irradiado pelo Sol é devolvido ao espaço. Porém, parte desse calor fica presa na atmosfera e é responsável por manter o planeta aquecido. O problema é que o excesso dos chamados gases estufa (gás carbônico, metano, óxido nitroso, fluoretos de enxofre e vapor d´água) amplifica esse fenômeno e faz com que mais calor seja retido na superfície do planeta, provocando o aquecimento global. Hoje em dia, os pesquisadores descobriram que não são só os gases que provocam esse efeito. O chamado carbono negro, que é a fuligem da fumaça, também tem papel importante nesse mecanismo. "A fuligem provoca o sombreamento da superfície e esquenta a atmosfera. Além disso, modifica a formação das nuvens, o que muda o equilíbrio térmico do planeta", explica Kenny Tanizaki Fonseca professor do Departamento de Análise Geoambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador associado da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ).
Apesar de ser impossível prever com certeza quanto o planeta deve aquecer nos próximos anos, a preocupação para minimizar os efeitos do aquecimento global é presente no mundo todo. Em 1997, 189 países membros das Nações Unidas se reuniram em Kyoto, no Japão, e assinaram um tratado em que se comprometem a reduzir as emissões de gás estufa em 5% em relação aos níveis de 1991. Em 2005, esse protocolo entrou em vigor e os países signatários deveriam atingir a meta até 2008. Até 2012 deve ser firmado um novo acordo, que já está em negociações. Uma das críticas ao Protocolo é que só estão obrigados a diminuir as emissões os países na lista de nações desenvolvidas. Ou seja, o Brasil ainda não tem metas a cumprir, apesar de estar na lista dos 20 países que mais poluem. "Ao contrário do que acontece no resto do mundo, 2/3 das emissões brasileiras estão ligadas ao uso do solo - desmatamento, queimadas e conversão de florestas em sistemas agropecuários. O próximo acordo também deve incluir o desmatamento, que tem a ver diretamente com o nosso país", afirma Kenny.
Um dos mecanismos a que os países desenvolvidos podem recorrer para cumprir a meta é comprar os chamados créditos de carbono de países que diminuíram suas emissões. Assim, uma empresa brasileira, por exemplo, pode desenvolver um projeto para reduzir as emissões de suas indústrias. Esse projeto passa pela avaliação de órgãos internacionais e, se for aprovado, é elegível para gerar créditos. Nesse caso, a cada tonelada de CO2 que deixou de ser emitida, a empresa ganha um crédito, que pode ser negociado diretamente com as empresas ou por meio da bolsa de valores. "Porém, os países só podem usar esses créditos para suprir apenas uma pequena parte de suas metas", explica Kenny Fonseca. Mesmo com essa restrição, o mercado de crédito de carbono está em pleno desenvolvimento, principalmente por causa do chamado mercado voluntário. Nele, mesmo países que não precisam diminuir suas emissões ou que não assinaram o Protocolo de Kyoto podem negociar créditos. Segundo um relatório divulgado por duas organizações americanas do setor de mercado ambiental, Ecosystem Marketplace e New Carbon Finance, em 2008 o mercado voluntário de carbono movimentou 705 milhões de dólares, por um preço médio de 7,34 dólares por crédito de carbono. Kenny Fonseca explica que o Brasil é um dos países que mais formulam projetos que geram créditos de carbono e que a expansão desse mercado é inevitável. "É muito difícil para os países desenvolvidos conseguirem atingir suas metas. Desde que o Protocolo de Kyoto foi assinado, houve um aumento populacional, acompanhado do aumento da necessidade de insumos. E isso acarreta um aumento natural da emissão de poluentes", afirma.
Emissões globais de CO2 batem recorde em 2011, diz AIE
DE SÃO PAULO
As emissões globais de dióxido de carbono (CO2) atingiram 31,6 gigatoneladas em 2011, um aumento de 3,2% em relação a 2010, segundo estimativas da IEA (Agência Internacional de Energia). A queima do carvão representou 45% do total das emissões no ano passado, seguido pela queima do petróleo (35%) e do gás natural (20%).
As emissões da China, país considerado o maior poluidor do mundo, foram de 720 milhões de toneladas, 9,3% do total. Na sequência, aparecem Estados Unidos, União Europeia e Índia.
As emissões dos Estados Unidos diminuíram em 92 milhões de toneladas em relação a 2010, devido à troca de carvão por gás natural na produção de energia e pelo inverno excepcionalmente ameno, o que reduziu a demanda por calefação.
Desde 2006, as emissões dos EUA diminuíram 7,7% (430 milhões de toneladas de CO2), principalmente pela diminuição do uso de petróleo no setor de transporte, com as melhorias na eficiência dos veículos, aumento do preço do combustível e a crise econômica vivida pelo país.
Na União Europeia, houve uma queda nas emissões de 69 milhões de toneladas (1,9% do total de 2010, segundo as estimativas da IEA).
Em processo inverso, as emissões da Índia em 2011 aumentaram em 140 milhões de toneladas (8,7% do total de 2010), ultrapassando as da Rússia.
As emissões do Japão também aumentaram em 28 milhões de toneladas (2,4% em relação as de 2010), como resultado do aumento no uso de combustíveis fósseis depois da crise energética nuclear pós-Fukushima.
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